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Ano novo, quem? | Parte III

— Não entendi — diz a moça com um sorriso um pouco sem jeito, confusa — é alguma piada? Estão aprontando alguma pegadinha?

— Não... Só... A gente queria conversar com uma pessoa, e a gente pode achar que ele morasse por aqui na vizinhança — responde Lucas.

— Entendi. Bom, posso ajudar? Posso até conhecer essa pessoa, qual o nome dele ou dela?

— A gente não sa...

— Guilherme Batista — responde Lucas, interrompendo o amigo.

— Guilherme? É meu filho... — diz ela cruzando os braços, desconfiada — De onde conhecem ele?

— Seu filho? — pergunta Daniel — A gente conhece ele porque... Por que mesmo, Lucas?

— Ele apareceu na nossa porta hoje de manhã — Lucas já não conseguia inventar nenhuma desculpa.

— Impossível, ele está no quarto... Um momento.


Ela educadamente sai e sobe as escadas, chamando pelo filho.


— Guilherme Batista!? — indaga Daniel.

— Dan, e se não for um endereço? E se for um lembrete?

— Como assim?


Lucas pega o bilhete novamente e ler: "Guilherme Batista, 1978".


— E se for um lembrete. Quando assinamos cartas, geralmente botamos nosso nome e a data.

— ... Cara, faz sentido.

— A gente tá literalmente no passado. Ninguém sabia sobre essa rua, nem mesmo no GPS. E a única pessoa que sabia, era uma senhora de sei lá, meio século de idade. E ela não falou como se fosse uma rua, ela ensinou o endereço como se morasse alguém que ela conhecia. Talvez, a pessoa que tá na nossa casa seja...


Eles são interrompidos quando ouvem a mulher descendo as escadas, com um aspecto preocupado em seu rosto.


— Onde encontraram meu filho? Fizeram algo com ele?

— Como assim?

— Ele não está no quarto — diz ela indo até eles em passos curtos — Onde ele está?

— Na nossa casa.

— Se está na casa de vocês, por que vieram pra cá? Tragam meu filho para casa!


Antes que respondam, Daniel se desequilibra de repente, cambaleando e fazendo Lucas segurá-lo para não cair. "Tudo bem, amigo?" pergunta segurando ele pelo braço, que como resposta, Daniel apenas confirma com a cabeça e ficando em choque ao olhar para a janela de casa.


— Onde está meu filho? — pergunta a mulher mais uma vez.

— Em casa e bem, iremos buscar ele, tá bom? — responde Lucas, mais preocupado em conferir se seu amigo está bem do que com a indignação dela.

— Vamos buscar ele, tá certo, senhora? — fala Daniel ao se recuperar, massageando a nuca com os dedos.


Eles pedem desculpas e saem, sem olhar ou esperar o que a mulher iria dizer ainda, pois Daniel estava apressado o suficiente para puxar Lucas pelo braço.


— O que foi!?

— Abaixa! — diz Daniel ao derrubar Lucas atrás de um carro, se agachando em seguida, espiando discretamente.

— O que deu em você!?


Daniel não responde, apenas aponta com a cabeça para frente e Lucas vê uma moça entrando na casa na qual acabaram de sair.


— Nem ferrando... — diz Lucas, sem acreditar no que estava vendo.

— Conhece?

— ... Como!?

— Talvez você esteja certo. Não é um endereço... É um lembrete, mas...

— É a sua mãe!?

— Mãe sempre foi bonita, né?

— Então... Pera, não, não... Isso não faz sentido. Se estamos em 78... Falta uns bons anos pra você nascer.

— Isso. Então meus pais não se conhecem ainda. A gente tem que voltar logo, sério. Urgentemente, se a gente mexer na linha do tempo... E eu não nascer!?

— Como assim?

— Amigo, minha mãe já contou como eles se conheceram. E foi justamente na virada de 78... Ah, não.

— O que foi?

— ... Papai disse que se conheceram por um amigo em comum... Que na verdade era irmão da minha mãe. Amigo, meus pais se conheceram porque meu tio apresentou o pai para a mãe...

— O que tem?

— Minha mãe só tinha um irmão. Ela não fala muito dele, faleceu antes de eu nascer, mas se aquela é nossa casa e aquela for minha vó...

— Guilherme é seu tio.

— E se ele não tá aqui hoje...

— Amigo, você...

— A gente precisa trazer ele de volta, urgentemente!


Eles se levantam de uma vez e correm, pegando o mesmo caminho que pegaram para chegar ali, mas seguiam na mesma época.


— Alguma ideia? — pergunta Lucas.

— Eu não sei... Eu tô...

— O que foi?

— Onde a gente tá?

— Como assim? Amigo, a gente tá na década de 70.

— Ah... É mesmo.


Lucas fica de frente para Daniel e olha nos seus olhos, encarando-o profundamente. Parecia começar a entender o que estava acontecendo com ele.


— O que você ganhou de aniversário quando tinha 12 anos?

— O que?

— Só responde.

— Ah... Eu... Eu não lembro... Eu realmente não consigo me lembrar.


Lucas solta um suspiro. Se afasta, pondo as mãos no quadril, olhando para baixo, preocupado.


— O que foi?

— Cara... — diz mordendo os lábios, como se fosse o que dizer a seguir, o forçasse a isso — Você pode tá sumindo.

— Que?

— Se seus pais não se conhecerem hoje, talvez... O efeito possa começar imediatamente. Aos poucos.

— Daonde tirou isso?

— É um palpite. Possa ser que conforme for "esquecendo", seja a nova linha do tempo se formando... Só que sem você. Isso significa que se você não existe, eu não vou ser seu amigo, se não sou seu amigo...

— Não vamos passar o Natal juntos.

— E se não passamos o Natal juntos... A gente não volta no tempo.

— E se não voltamos no tempo, o Guilherme apresenta meu pai pra minha mãe. Ai saímos dessa.

— Na real não. Vamos ficar presos em um paradoxo... Isso é, se já não estamos.

— E como a gente quebra isso?

— Temos que fazer seus pais se conhecerem, de um jeito ou de outro. Antes que você suma de vez. Onde ele pode tá?

— Bom, ele dizia que trabalhava numa padaria aqui perto... Talvez possa estar por lá.

— Onde? Vai ver já estão abertos nessa época... Pera, é aquela padaria que eu cai em um buraco quando te visitei pela primeira vez?

— Essa mesmo... Acho que ainda sei onde é.


Daniel olha ao redor, tentando se localizar, baseando pelas ruas que conhece de sua época. Os dois vão andando, fascinados por realmente estarem no passado. E logo chegam na padaria "Pão Nosso de Cada Dia"


— Okay, cadê seu pai?

— Eu não sei... Ele devia ser algum desses atendentes.


Lucas olha ao redor e vai para fora do estabelecimento, respirando profundamente. Se pergunta o motivo de estarem ali, do porque o universo jogou os dois ali e como iriam voltar. Por uns segundos, se conformou em começar uma vida nova no passado, mas logo volta a realidade, seria um absurdo.


— Tudo bem? — pergunta Daniel, saindo também.

— Tudo... Só... Cara, como vamos sair dessa?

— Eu não faço ideia.


Lucas olha ao redor e solta uma risada e Daniel desconfia.


— O que foi?

— Não... Nada.

— Diz cara.

— Essa padaria continua do mesmo jeito?

— Como assim?

— Fizeram alguma reforma ou algo assim?

— Não amigo, por que?

— Volto já — diz ao entrar, Daniel só ouve Lucas pedindo um papel e um lápis.

— O que esse doido vai fazer...?


Ele se vira para seguir o amigo, mas é surpreendido por algo que o acerta com força. No chão, olha ao redor, vendo que foi alguém em uma bicicleta que barroou nele.


— Meu Deus, desculpe! — diz o homem levantando para ajudá-lo — Está bem?

— Ai... Sim, eu não te vi... PAI!?

— Oi?


 
 
 

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