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Resgatando o Natal | Parte I

24 de Dezembro, Fortaleza - CE.


- Noah! - grita Mirian do andar de baixo, chamando seu amigo. - Vem logo! Vamos nos atrasar.

- Calma, calma! - diz ele, com a voz vinda do quarto. - Eu não tô achando minhas chaves.

- Essas que estão na minha mão!? - diz sacudindo o chaveiro com sarcasmo.


Um silêncio de constrangimento surge e Noah desce as escadas, sem jeito e apressado, pulando alguns degraus com alegria.


- Que horas ele disse que chega?

- Às 19 horas. Já são 18:47.

- Dá tempo… - fala ao chegar no pé da escada, soltando um suspiro para recuperar o fôlego. - Dá tempo.

- Daqui pro aeroporto já pega uns 25 minutos, isso é, se o trânsito cooperar.

- Relaxa, é Natal. Sente a magia. - falar ao abrir as mãos vagarosamente, como se fosse complementar o efeito da frase.

- Meu carro não voa. - diz ela imitando o gesto do amigo.


Ela ri da ingenuidade dele, agora na frente dela, terminando de se arrumar. Noah é um rapaz mediano, com os cabelos rebeldes e cacheados, quase que cobrindo seus olhos, e um sorriso quase que esculpido em seu rosto, fazendo dele um excelente candidato a garoto propaganda de qualquer pasta de dentes.


- Vamos logo. - diz Mirian.


Ela pega a bolsa que está em cima da mesa da sala e saem da casa, trancando-a e indo para a garagem. Entram no carro e ela dirige em direção ao aeroporto.


- Liga o GPS pra mim, por favor. - diz ela concentrada no retrovisor, tirando o carro de ré.

- Claro. - responde ele, pondo o celular no suporte acima do painel e botando o endereço do aeroporto. - Espero que ele não fique bravo se a gente se atrasar.

- Acho que não. Ele é cabeça quente, mas é bem de boa em relação a esses imprevistos. - diz quando finalmente sai da garagem e começa a seguir as orientações do celular.


Em poucos minutos eles estavam no trânsito noturno da cidade, com todos se preparando para o natal. As ruas enfeitadas e iluminadas por várias decorações coloridas e exuberantes, como enormes doces de bengala acima das avenidas e pequenas luzes coloridas e piscantes, enroladas nas árvores, além do led acima do meio fio, deixando a estrada alegre demais na opinião de Mirian.


Param no primeiro de muitos faróis a seguir, fazendo-a bater os dedos ligeiramente no volante, impaciente.


- Desculpa por fazer a gente se atrasar. - diz Noah, percebendo o tique da amiga.

- Não precisa, só, sei lá. Não queria que ele ficasse esperando. Ele vai voltar em três dias, queria aproveitar o tempo que pudesse com ele.

- Eu também, tanto quanto você.


O sinal muda de vermelho para verde e ela segue caminho. Uma longa estrada reta, mas quase cheia de carros e ônibus, levando as pessoas para suas casas e muitas delas, indo viajar para ver a família ou apenas indo descansar para mais um dia que começará em algumas horas.

Na beira das estradas, algumas lojas ainda estavam abertas, cheia de pessoas que decidiram comprar presentes de última hora, e aquelas que saíram para não passar essa noite sozinhas. Independente dos motivos, é uma noite agitada e diferente das demais. Uma agitação boa, que aquece e deixa o coração ansioso para o que está por vir.


- Estamos quase chegando. - diz ela, vendo que o amigo olha distraído para as beiras do asfalto. - Ansioso?

- Coração parece que vai sair pela boca.

- Tem certeza? Te conheço ansioso, e de longe, não é tão calado assim. - diz ela em um tom que soa como um “quem dera fosse”.

- É que… Sei lá… E se ele não gostar mais de mim?

- Vocês são melhores amigos, não acho que—

- Por celular. Faz quase uma década que não nos vemos.

- Esqueceu da páscoa?


Em abril daquele ano, Noah fora a São Luís, no Maranhão, visitar seu amigo, mas poucas horas de se encontrarem, acabou entrando por engano em outro ônibus e acabou sendo levado para outra cidade perto dali.


- Obviamente não é válido. Nos vimos por alguns minutos, e foi pra ele me buscar.

- É, você nunca me contou o que aconteceu pra ter que voltar às pressas pra Fortaleza.

- Tem coisas que vão ficar só entre mim e o coelho…


Mirian faz gestos como se fosse rir, e Noah percebe a tempo para olhá-la seriamente, como se quisesse censurar seu ato, mas acaba rindo primeiro que ela.

Em poucos minutos, chegam ao aeroporto. Ela para o carro na frente da entrada e diz para ele descer, que ela ia procurar uma vaga para estacionar.

Ele desce do carro e quando ia pôr a mão no bolso para ligar para seu amigo, percebe que esqueceu no carro.

“É…” diz para si mesmo “... Não deve ser tão difícil achar ele. É natal”


Quando entra no lugar, percebe que nunca esteve tão errado. Estava cheio de gente, como nunca antes visto, então tinha que bolar um plano para achar ele a tempo. Antes de imaginar um plano, ri de como queria fazer, que seria nada mais do que: “Com licença, você é meu amigo? Não? Ok, desculpe! Ei, com licença…”

Então procura o local de desembarque e tenta focar individualmente nos rostos que passam por ele, mas fica cada vez mais complicado, pois parece que mais e mais pessoas chegam de encontro naquele ponto específico.


- Com licença, seu guarda. - diz ao ver um homem fardado parado a alguns metros dele. - Pode me ajudar, por favor?

- O que deseja?

- Onde fica o desembarque de quem chegou do Maranhão?

- O avião das 19 horas, certo? Fica ali na frente, depois da lanchonete.

- Obrigado! - diz excitante, começando a acelerar o passo para abrir caminho.


No estacionamento…

Mirian para o carro a vários metros da saída do aeroporto, por ser o único lugar que achara. Antes de descer, nota que o celular do amigo toca e ela resolve atender, quando ver que a ligação é de Sandro.


- Alô! Noah, onde você tá?

- Oi, é a Mirian. O Noah tá te procurando, onde você tá?

- Oi, Mirian! - diz alegre ao ouvir a voz da amiga. - Eu tô bem na frente do meu portão de desembarque. Como ele tá vestido? Aqui tá cheio de gente.

- Camisa branca e jaqueta jeans. Se ele não te achar, eu te acho, como você tá?

- Tô bem e você?

- Vestido, tonto!

- Ah! Tô de camisa vermelha e calça preta.

- Tô indo.


Ela desliga a ligação e corre para entrar e achar os amigos.

Lá dentro, Noah falta pouco para subir em um banco e gritar pelo seu amigo, pois mesmo próximo ao portão de desembarque, não vê ninguém que nem sequer se pareça com Sandro, que é um rapaz um pouco mais alto que ele, de pele morena e cabelo curto, com os olhos de baixos, deixando uma aparência de falsa calma, pois quase sempre, Noah lembra do amigo como alguém explosivo quando a situação pede… Ou quando não pede.


- Misericórdia, onde ele se meteu!? - pergunta pra si mesmo, ofegante.

- Deveria buscar nos banheiros. - diz uma voz atrás dele.

- BOA IDEIA!


E por alguns segundos ignora de onde veio a voz, até que se vira e vê seu amigo, com uma mochila nas costas e as mãos no bolso da calça, sorrindo.


- E aí, No一


Antes mesmo que termine de falar, seu amigo pula em seu pescoço com um abraço bem apertado, que quase faz Sandro cair, fazendo a rodopiar para se manter de pé e recuperar o equilíbrio.


- É tão bom te ver! - diz Noah, ainda mantendo o abraço.

- Também… É bom te ver… Amigo, amigo… Dá pra… Meu Deus, não consigo respirar.


Quando Noah repara, Sandro já começou a ficar roxo.


- Desculpa! - diz soltando ele de repente, rindo. - Me empolguei!

- Tudo bem… Uau, meu Deus… - fala seu amigo, ofegante, apoiando-se em seus joelhos. - Ficou mais forte, em?

- Vem, a Mirian tá esperando a gente. Te ajudo com as malas. - diz pegando uma mala que estava perto do amigo, fora sua mochila.


Ele guia seu amigo para a entrada da garagem, que no caminho, passa pela moça de cabelos ruivos.


- E aí! - diz ela, gentilmente.

- Mirian!? - indaga Sandro. - Caramba, como você cresceu!

- Puberdade veio para todos. Pelo visto já foi encontrado.

- Tá mais para eu ter achado ele.

- Vamos, vamos! - diz Noah, alegremente, apressando os passos dos amigos. - Quero te apresentar nossa casa.

- Mal vejo a hora. - responde ele, embora Noah tenha mostrado umas quinhentas vezes por ligação de vídeo e fotos. - O jantar de Natal já está pronto? Espero que ainda tenham espaço para os pratos que aprendi a fazer.

- Se não roubar a atenção do meu peru, tudo bem! - diz Noah.

- Aprendeu a cozinhar peru?

- Sim, foi molezinha.


Rapidamente Mirian olha para seu amigo, com olhar de surpresa, como se lesse todos os pecados dele.


Naquela tarde…


- MIRIAN, ME AJUDA! - grita Noah, com uma vassoura na mão.

- Que gritaria é essa…? - fala ela, bocejando, descendo as escadas. Mas, logo é despertada quando vê o fogaréu saindo do forno. - O QUE VOCÊ FEZ!?


No carro…


- Caramba, não acredito que você tá aqui, de verdade! - diz Guilherme, animado. - Deveríamos passar na praia. Você gosta de praias, né?

- É… Na verdade não. De onde tirou isso? - responde Sandro, intrigado, do banco de trás.

- Ué, nesses dias você postou algumas fotos na praia. Achei que tinha gostado.

- Ah, não… Ali eu só tinha ido visitar… Tinha ido pegar umas coisas. Ai gostei da paisagem e tirei uma foto.

- Entendi.

- Mas e vocês, como estão?

- Bem. - responde Mirian. - Se levar em conta que às vezes penso em expulsar o Noah.

- Exagerada. Estamos nos dando bem, liga não. Se bem, que mal nos vemos, os horários de trabalhos não batem, então vejo a cara dela só no fim do dia.

Quando chegam, Noah pega as malas de Sandro e sobe para mostrar o quarto que ele ia ficar. No andar de cima, entre o quarto dele e de Mirian. Quando entra, vê que está tudo bem arrumado e simples, sendo uma cama, uma televisão e o banheiro. O que deixa aliviado, pois sabe como Noah é, e sabe que o estilo dele seria uma faixa escrita: “Boas Vindas!”.


- A Mirian não deixou eu fazer uma faixa de boas vindas.

- Sem problema. - diz ele rindo.

– Eu só vou tomar um banho e vejo vocês lá embaixo, tudo bem?

– Claro. Vou preparar o jantar.

– Não vai esperar dar meia noite?

– … Claro, com certeza… Eu quis dizer aperitivo. Pra aguentar até o natal.


Sandro ri e entra no banheiro quando Noah se retira e fecha a porta do quarto.

Quando desce as escadas para ir à cozinha, vê que Mirian está botando vinho em algumas taças.


– Você nem disfarça. - diz ela, rindo.

– Do que?

– Eu tô muito feliz de ver o Sandro, mas você, caramba!

– Eu sei, é que…Ah, você sabe como sou com amizades. Acho que esse jeito mais—

– Intenso? - pergunta em um tom como se fosse corrigir o amigo.

– É, pode ser. - fala dando de ombros, já que ia dizer outra palavra. - A questão é: a maioria dos meus amigos não são daqui. É minha chance de ter esse contato fora do celular, entende?

– Entendo… - fala ao oferecer uma taça de vinho ao amigo. - Mas, vai com calma. San não é muito natalino, então não vai saber reagir a toda essa empolgação.

– E eu já sei como ajudar! - diz com um tom de reacender os ânimos.


No quarto…

Quando Sandro sai do banho, ouve passos vindos do andar de cima. Supõe que deve ser algum tipo de sótão e ignora, indo se vestir.

Pegando sua mochila ver que tem mensagens de sua mãe e decide responder.


Mãe: Chegou bem?

Sandro: Sim. Já estou na casa do Noah. Feliz Natal para vocês!

Mãe: Obrigado! Para você também :D

Sandro: O pai chegou?

Mãe: Não.

Mãe: Vai pegar o plantão para folgar amanhã.

Mãe: Desanimou quando disse que não viria.

Sandro: Não quero passar o natal brigando de novo.

Mãe: Vocês dois são iguaizinhos.

Mãe: Cara dum, focinho do outro.

Sandro: Hum.

Sandro: Beijos, boa noite!

Mãe: Beijos!


Desliga a tela do celular e deixa na cabeceira, e começa a se vestir. Sem se perceber, se levando pelos seus pensamentos, surpreso por estar ali com seus amigos.

De repente, os passos que estavam sobre eles, estavam no corredor, deduzindo ser Noah.

Mas, tinha algo diferente, os passos estavam pesados e ao mesmo tempo silenciosos, como se fossem silenciados por pisar em algo macio.

Sandro se aproxima devagar, procurando fazer o mínimo de barulho. Quando chega na porta, olha através da fechadura, mas não vê nada. Apenas um borrão vermelho.

Se ergue novamente, e abre a porta de uma vez—


– … Olá! - diz um homem, um pouco acima do peso, com os cabelos e barba grisalhas, grande o suficiente para cobrir sua boca. Usando uma roupa de frio vermelho e branco, junto com um gorro, foi informação demais para assimilar.


Tanto o homem como o Sandro ficam paralisados, olhando um para o outro. Até que, sem pensar, o garoto pega impulso para atacar no homem, que sem se defender, fica se batendo nas paredes.


– C-Calma, amigo… Eu não vou…

– Quem é você!? - pergunta em meio às batidas.

– Me deixa… Explicar… - fala ao virar seu corpo para frente, derrubando Sandro e dando oportunidade de ficar reto, em pé, e ir pegar algo em um saco de veludo atrás dele.


Automaticamente, acha que o homem pode tá armado, então pega o abajur que está no corredor e com toda sua força bate na cabeça dele. É ouvido um estalo da lâmpada e a estrutura do abajur quebrando, seguido da queda do corpo caindo de frente no chão, apagado antes de chegar no que ia pegar.


– Que que tá acontecendo? - pergunta Mirian, subindo as escadas. - MEU DEUS O QUE VOCÊ FEZ!?

– O que foi? O que foi? - pergunta Noah correndo até o local. - VOCÊ MATOU O PAPAI NOEL!?

– Que!? - indaga Sandro. - Papai Noel não existe.


Noah olha de Sandro para o homem, apontando como se fosse algo óbvio.


– Velhinho, de vermelho, com saco de presentes. Me explica então!

– Pode muito bem ser um ladrão disfarçado!

– Eu não acredito que matou o Papai Noel. - diz Mirian, perplexa, chegando cuidadosamente até o corpo.

– DÁ PRA PARAREM DE CHAMAR ELE DE NOEL!? E eu não matei ele.

– Claro que é o Papai Noel. - diz Noah, pondo as mãos nos cabelos cacheados, sem saber o que fazer. - O que vamos dizer às autoridades? Meu Deus, eu vou ser preso no Natal!

– Ele não morreu. - fala Mirian, checando o pulso. - Só está desacordado.

– Viu? Agora vamos levar esse maluco pra polícia.

– Por que vai levar o Papai Noel pra polícia? - indaga Noah.

– Ele não é o—


Antes que diga mais uma palavra, ouvem uma voz aguda, vindo de um tipo de interfone. Eles procuram a origem do som e Mirian, que está bem próxima ao corpo, vê que a voz está vindo de uma bola de natal, presa no cinto do homem. Vermelha com detalhes em dourado, brilhava de acordo com a voz que emitia dela, dizendo: "Noel? Está aí? As renas estão à sua espera! Não se atrase."


- Ouviu isso, San? Essa voz perguntando onde ele tá, que as renas já tão esperando por ele… Viu só? Ele é sim o Papai Noel. Meu Deus, as renas já tão todas à espera do velhinho e ele vai se atrasar pra entregar os presentes, Meu Deus. - Noah anda em desespero de um lado pro outro com as mãos nos cabelos.

- Noah, você tá se ouvindo?

- Ainda bem que você não matou ele, San. Imagina, ser preso no natal porque matou o Papai Noel. - Mirian pontua.

- Foi sem querer, eu tava trocando de roupa e aí ouvi uns passos pesados pelo corredor e depois que abri a porta eu dei de cara com ele… O que queriam que eu fizesse?

- Não precisava ter acertado ele, San.. E agora, como vão ficar os nossos presentes? - Noah pergunta com um olhar manhoso fazendo Sandro e Mirian fitá-lo com cara de negação.

- O Papai Noel tá desacordado e você tá pensando em presentes, amigo? - Mirian indaga.

- Dá para parar de chamar esse velho de “Papai Noel”? - pergunta Sandro.

- É que nesse estado ele não vai poder sair pelas casas distribuindo os presentes pelas chaminés e receber um presente do Papai Noel é o sonho de muitas crianças no natal. - responde Noah, como se seu amigo nem tivesse perguntado nada.

- E pelo visto não só das crianças, né. - Mirian diz olhando pro Noah com um sorriso carinhoso de lado no rosto. Noah abaixa a cabeça envergonhado e começa a andar pelo quarto em volta do Noel.


Os três começam a andar em círculos em volta do velhinho inconsciente no chão até que Mirian pergunta:


- E agora, o que a gente faz com ele?

- Bom, a gente pode deixar ele aí e curtir o natal lá embaixo.

- Que horror, San. - Mirian ri da sugestão do amigo.

- O que? Eu não tô nem um pouco afim de levar um cara vestido de Noel pro pronto socorro. Vamos esperar ele acordar e amarrar ele.

- Lá embaixo tipo no…?

- No andar debaixo. - San responde interrompendo o que Noah ia dizer.

- Eu tenho uma outra ideia…


A bola de natal presa ao cinto do homem começa a emitir um novo som, dessa vez a voz não era aguda como anteriormente, e sim uma voz que parecia a de um personagem de desenho animado, toda desengonçada e que perguntava: “aí, Noel, qual é cara? A gente precisa de você logo aqui, falou? Daqui a pouco vamos ter que começar as entregas dos presentes. Por favor, vem logo!”


- Viu Sann é o Papai Noel de verdade e a Rena Mór tá esperando por ele para começarem a entregar os presentes!!! - Noah exclama super eufórico e ao mesmo tempo com um tom de voz desesperado por ver o Noel desacordado enquanto Mirian e Sandro tentam disfarçar um olhar de preocupação.

- Eu nunca vi esse menino tão empolgado assim na minha vida. - Mirian comenta com Sandro.

- Mas pera aí, Rena Mór? Essa vozinha ridícula de desenho animado? O que diabo é tudo isso? - Sandro pergunta se arrependendo logo depois, pois mal sabia ele que acabara de ativar, sem nem saber direito, o maior fio que ligava a animação de Noah pelo natal.

- Como assim você não sabe? - Noah anda até Sandro e leva Mirian junto com ele, fica entre os dois e segura na mão de ambos, puxa os dois para entrarem no quarto e sentarem na cama junto com ele e começa a olhar pra cima com uma expressão mágica, nostálgica e com pitadas filosóficas no rosto. - Tudo começou quando, ao longo da história, lá no polo Norte, o Papai Noel precisou da ajuda de renas para trabalhar junto com ele no natal, já que ele ia começar a entregar os presentes por delivery…


Um tempo depois…


- … E foi assim que aconteceu tudo. A Rena Mór é a rena assistente da rena principal, que é como se fosse o braço direito do Papai Noel, ela coordena as outras renas e faz questão de garantir que todas elas vão seguir em ordem e fazer o trabalho bem feito na noite de natal.

- Meu Deus, Noah. - Sandro olha pra ele e fica surpreso. - Não sabia que você tinha tanto conhecimento sobre isso, amigo.

- Nem eu… Ele falou com uma fluidez, né? Você também não achou isso, San? - Mirian pergunta, mas aquela primeira voz aguda ecoa da bola de natal que o Noel carregava no cinto mais uma vez.

- Olha, a gente precisa fazer alguma coisa! - Noah se levanta de uma vez e demonstra estar com medo.

- Eu também acho, mas o quê?


Os três pensam em alguma coisa para distrair as renas e ganharem tempo para pensarem em uma solução melhor do que esconder o Papai Noel desacordado e estragar o sonho de várias crianças, até que Noah tem uma ideia.


- JÁ SEI! San, você vai fazer uma voz de um velhinho e vai falar com a rena principal pela bola de natal dizendo que já tá indo e que é pra eles ficarem despreocupados!

- O QUÊ!? Eu não vou fazer isso de jeito nenhum.

- Ah San, vai, por favor… Se você fizer isso, eu faço.. - Noah se aproxima de seu amigo e começa a falar algo em seu ouvido.

- … Tá bom. Mas, por que você mesmo não faz?

- Não sou bom com imitações, você sabe. Eu ia rir.


Sandro vai até o velho no chão e se abaixa para pegar a bola de natal.

- Tô tão curiosa. O que você falou que fez ele mudar tanto de ideia assim do nada? - Mirian pergunta.

- Disse que ia fazer o prato preferido dele.

- Deixa ele saber que você quase botou fogo na casa hoje de tarde tentando cozinhar que ele te pega. - Mirian começa a rir, mas Sandro pede silêncio.

- Não acredito que eu tô fazendo isso… - diz dando um suspiro forte, pronto para engrossar um pouco a voz. - Rou, rou, rou, um feliz natal minhas renas!


Noah e Mirian se seguram para não dar risadas ao ouvir a imitação do amigo. Mas, isso não desconcentra Sandro, que continua:


- Houve um pequeno imprevisto, mas eu prometo que já estou chegando para espalharmos a magia do natal pela vizinhança… Agora se me dão licença, eu vou resolver as coisas aqui para ir o mais depressa possível pra aí! Rou, rou, rou, eu sou o Papai Noel! Rou, rou, rou.


Sandro aperta um botão aleatório da bola de natal, mas antes de desligar ouve uma voz de fundo falando baixo, como se cochichasse com quem estivesse perto: “Eu disse pra gene aposentar esse velho”.

Ele volta ao normal, ficando de pé. Noah e Mirian começam a rir descompassadamente e param após ver a cara séria de Sandro.


- Desculpa amigo, mas você ficou tão fofo ali imitando o Papai Noel… - Mirian comenta.

- A única coisa que eu quis enquanto fazia isso era morrer!

- Para com isso San, não exagera. Foi bem convincente.

- Tá, mas agora a gente vai precisar pensar em outra coisa porque já ganhamos tempo com as renas, mas daqui a pouco elas podem ligar e cobrar de novo…

- JÁ SEI! Eu tive uma ideia incrível, só que você vai precisar ser um pouquinho mente aberta, San…


Alguns minutos depois:


- Não, não e não. De jeito nenhum. Isso não. - Sandro responde frustrando a ideia de Noah.

- Ah San, qual foi vai, vai ser tão divertido a gente sair por aí entregando os presentes.

- Não, Noah! Não insiste, isso já seria demais…

- Bom, alguma coisa tem que ser feita.

- A gente nem sabe se esse cara é realmente o Noel!

- VOCÊ FALOU COM UMA RENA FALANTE! ATRAVÉS DE UMA BOLA MÁ-GI-CA! - fala Noah com impaciência da descrença do amigo, como se negasse ver o óbvio.


Sandro olha para o velho desacordado, sem expressão, seguindo seu olhar para seus amigos, que o encaram como se esperasse uma resposta, até que—


- Olha, você indo ou não, eu vou.

- O que? - perguntam Mirian e Sandro em coro.

- É.

- O que ia fazer?

- Eu… Eu não sei. Mas, eu vou. O cara tá desmaiado na nossa casa, né? Tenho que arcar com as consequências. - nesse instante, Noah se imaginou em um tribunal de elfos e criaturas mágicas o julgando, batendo o martelo e dando o veredito: “Culpado, por matar o Papai Noel”.

- O Noel tá assim por minha causa. Minha culpa.

- Não San, não fala assim…

- Mas é verdade, Mirian. Eu que acertei ele pensando que era um ladrão… Eu fiz isso, agora eu vou ter que resolver.

- Nós vamos. - diz Noah, estendendo a mão para o amigo.

- Tô orgulhosa de você, San. - Mirian fala pondo a mão sobre o ombro do amigo. - Não por deixar um homem inconsciente no meu corredor, claro.

- Eu também tô. - Noah sorri e Sandro sorri de volta.

- Vocês vão fazer assim: vou ficar cuidando dele aqui até ele acordar e vocês dois vão ao encontro das renas para distribuir os presentes.

- Tá, mas como a gente vai fazer pra descobrir onde é? E o que nós vamos falar quando chegar lá? - Sandro pergunta, se questionando a cada palavra que sai da sua boca.

- Quanto a isso, a gente pode dizer que o Papai Noel teve um imprevisto e mandou a gente no lugar, os seus duendes encantados! - Noah aponta pra ele e o Sandro enquanto Mirian se segura pra não rir.

- Duendes encantados, Noah!? A gente? Dois cavalo desse tamanho?

- Isso são detalhes, San. Não se esqueça, é natal! Sente a magia… - Ele fala ao abrir novamente as mãos vagarosamente e olha pra cima, fazendo seus amigos olharem também. - Falando nisso, eu tenho a roupa perfeita!


Noah vai até o armário, abre as portas e tira da última gaveta dois pacotes grandes de dentro. O menino os leva até a cama e desembrulha eles, revelando aos seus amigos duas roupas de duende, uma vermelha e uma verde, só que em tamanho grande, para comportar a altura deles.


- Noah, eu não acredito que—

- Vem comigo, San.


Noah arrasta Sandro para fora do quarto e Mirian resolve cuidar de Noel. Ela checa a área que foi atingida pelo abajur e nota que não há algum ferimento grave como um corte ou algo do tipo, apenas um calo que em algumas horas iria cessar. Ela desce até o primeiro andar da casa e pega uma vassoura, uma pá e uma sacola de mercado para colocar os cacos de vidro da lâmpada do abajur quebrado nele.


A menina de cabelos ruivos limpa todo o quarto e coloca um travesseiro por baixo da cabeça do Noel, já que não conseguia sozinha colocá-lo na cama. A bola de natal emite um som mais uma vez e ela prontamente decide falar algo antes de ouvir a reclamação das renas pedindo para o Papai Noel se apressar. Ela tenta imitar Sandro e faz uma voz rouca e de uma pessoa idosa dizendo que logo, logo eles teriam uma surpresa do bom velhinho, mas não avisa que os amigos foram escalados para o substituir, a fim de tentar deixar as coisas mais engraçadas. Ela consegue o endereço e anota para passar para os amigos depois.


Logo após isso, os meninos voltam.


- Aí, San, vem logo… - Noah puxa ele que não queria sair do corredor e os dois entram no quarto.


Mirian olha seus amigos dos pés à cabeça e não consegue esconder o riso ao ver Sandro vestido com uma roupinha de duende todo de verde, com direito às orelhas e ao chapéu e Noah com a mesma versão da roupa, só que em uma cor vermelha.


- Noah… Eu tenho tantas perguntas. - comenta ela tentando disfarçar.

- Pode começar pela minha: por que você guardava roupas de duende no guarda-roupas? E o PIOR: Como tinha uma roupinha ridícula dessa do MEU TAMANHO?

- Ah San, é que—

- Espera, então era por isso que você tinha perguntado qual tamanho eu usava naquele dia… Você falou que tinha um presente pra mim.

- Surpresa! - Mirian levanta os braços e chacoalha as mãos, enquanto Sandro a olha sério. - Ah amigo, nem tá tão ruim, vai. Vocês tão fofos.

- E também San, assim é muito mais fácil pras renas não enxotarem a gente de lá. Elas vão pensar que a gente é da família!

- Eu não quero ser da família de um velho barbudo que fica gritando Rou Rou Rou por aí. - Ele cruza os braços. - Se essas renas realmente voarem, eu pulo lá de cima.



Noah vai até o saco de veludo vermelho cheio de presentes e tenta segurá-lo, constatando que está muito pesado. Ele tenta arrastar sozinho, mas não consegue, então Sandro prontamente vai até seu amigo e o ajuda a carregar até o lado de fora do quarto. Eles se despedem de Mirian e conseguem colocar o saco de presentes nas costas. Noah sai dizendo com toda sua empolgação que eles dois estão prometendo ir em direção a uma grandiosa e mágica aventura de natal. Sandro faz cara de desespero e pede socorro em silêncio até o lugar onde iriam encontrar as renas.



- Tem certeza que é aqui? - pergunta Sandro, olhando para o endereço que a amiga anotou no papel e para sua frente.

- … Vai ver ela errou o número.

- É um beco, Noah.

- Ela pode ter confundido a rua.

- É um beco.

- Podemos pedir informação.

- “Opa, com licença, pode nos informar onde tem renas falantes aqui perto? Na próxima rua? Obrigado e feliz natal” - diz Sandro com ar irônico no tom.

- Espera, deve ser algum tipo de passagem secreta ou algo do tipo…


Sandro pega a bola de Natal e ergue nas mãos, achando que pode servir como algum tipo de chave ou pelo menos mostrar a entrada. "Pelo visto alguém tá pegando o espírito da magia do Natal" brinca o amigo quando vê isso, mas antes que ele responda, a bola de natal gruda na parede como se fosse um ímã e atrás de um latão de lixo, abre uma passagem reluzente, como um vórtex. "Vamos!" Fala ao ir em direção ao portal. Noah segura a camisa do amigo e vai atrás. Um brilho intenso toma conta deles e quando abrem os olhos chegam ao local combinado, os garotos observam o mágico lugar ao seu redor. Noah parecia encantado e seus olhinhos brilhavam, já Sandro parecia não acreditar no que estava vendo.


- Que lugar é esse, meu Deus?


Sandro pergunta andando pelo lugar junto com Noah que era cheio de pinheiros enfeitados de natal, luzes com pisca-pisca, era como um bairro à parte, só que escondido de todos. Tinha ruas enfeitadas, alguns carrinhos velhos deixados em um canto, o que fez Noah suspeitar que eram os antigos veículos usados para a entrega dos presentes.


- Uau, que lugar incrível! Eu tenho tantas perguntas…

- Podem começar respondendo a minha. Quem são vocês e o que fazem aqui? - Um duende bastante resmungão aparece de surpresa na frente dos meninos, assustando eles e Noah decide responder.

- Nós? Nós somos os… os assistentes especiais do Papai Noel, ele nos enviou aqui porque teve um imprevisto e não vai poder chegar agora, então pra não comprometer a entrega dos presentes, ele nos mandou pra ajudar vocês nessa missão.

- Entendi, vocês devem ser a surpresa que o velho falou… - O duende fala em tom baixo.

- Como é? - Sandro pergunta.

- Ele certamente só deve estar resmungando, como sempre. - Um outro duende aparece e demonstra mais gentil. - Se a vontade do Noel foi mandar vocês até aqui, então que seja feita! Venham comigo, meninos.


Os quatro saem andando pela cidade natalina e durante todo o caminho, Sandro fica calado e Noah se mostra mais falante do que nunca. Ele perguntou o que era tudo aquilo, como surgiu, por que ninguém conseguia ver e muitas questões mais. Os meninos descobriram que na verdade, ali era onde funcionava tudo por trás da noite de natal naquela parte do planeta. Ali era onde diversos duendes, de diversos tipos trabalhavam durante o ano para produzir e manifestar os presentes pedidos pelas crianças. Ali eles estudavam e escolhiam quais se comportaram direito para ganhar um presente.


Naquele lugar encantado, não eram só as crianças que seriam beneficiadas, mas até os adultos que mantinham sua criança interior viva e acreditavam na magia do natal também ganhariam os presentes. Noah e Sandro descobriram que existiam os sete duendes principais e que cada um deles possuía um nome e uma personalidade distinta, assim como na Branca de Neve. O que apareceu primeiro pra eles foi o “Zangado”, o resmungão da turma. O que veio depois e se dedicou a apresentar a cidade natalina aos meninos foi o “Feliz”. Ele quem está explicando tudo aos meninos despertando a felicidade interior de Noah e tentando quebrar o gelo de Sandro.


Além disso, ele era o responsável por tornar toda a noite de natal mágica. Colocava a sua felicidade nos presentes, passava sua energia para as renas e assim elas conseguiam trabalhar melhor e as crianças ficavam mais animadas. No caminho até o duende “Mestre” eles foram passando pelos outros restantes e cada um foi apresentado. Cada um tinha sua função e cada um dos sete eram muito importantes para composição e comunhão do grupo, mas nem mesmo na cidade encantada de natal as picuinhas poderiam deixar de existir. Mas acontece, nada é perfeito!


- Que incrível tudo isso, San!! Você não tá achando?

- Tô. É legalzinho, vai. Mas é tão, sei lá, esquisito. Tipo, esse lugar… Primeiro que eu nunca iria pensar que Papai Noel existe de verdade, depois, tudo isso? Uma cidade inteira de natal escondida de todo mundo, duendes que têm as mesmas personalidades dos sete anões da Branca de Neve… Será que existe a história da Branca de Neve também? - Noah começa a sorrir e seu amigo balança a cabeça. - Meu Deus, o que tá acontecendo comigo?

- Você tá sentindo a magia do natal, San.

- Impossível, eu detesto o natal. Na verdade, não é que eu deteste o natal, é que eu sempre não gostei muito dessas histórias, dessas coisas—

- Chegamos, meninos!


O duende Feliz comunica aos meninos que eles chegaram até o duende Mestre e depois de uma rápida conversa, ele concede que o Feliz encante Noah e Sandro com a sua mágica energia de natal para que eles possam subir com as renas e saírem entregando os presentes junto com elas. Noah falta explodir de tanto amor, enquanto Sandro começa a olhar seu amigo e toda essa paixão pelo natal com outros olhos.


Já no ponto de partida para fora da cidade onde as nove renas do Noel se encontravam:


- Prontinho, meninos. Vocês já estão prontos pra essa aventura. - o Feliz sorri ao comunicar e os outros seis duendes os ajudam a subir sobre o trenó as renas, para acompanhar o percurso e ajudar os meninos a entregar os presentes.


Noah fica encantado com tudo que está acontecendo, e no caminho, resolve retomar sua conversa com Sandro.


- Você tava me contando sobre sua experiência com o natal… por que não gosta dessa época, amigo?

- Eu gosto, é que… como eu te falei, eu nunca fui chegado nessas histórinhas e nessas coisas, e também… Lá em casa ninguém nunca se importou muito com essa época do ano. Todo mundo era muito cético, não acreditava nessa história de Noel nem mesmo pra enganar as crianças, nunca teve ceia ou essa “magia” que você diz ter. - fala ao fazer o sinal de aspas com os dedos e Noah sorri de lado. - Uma vez eu tentei escrever uma cartinha pro Papai Noel e meu tio viu e rasgou, disse que aquilo era uma bobagem e que eu devia me importar com estudar e me tornar alguém na vida, e não com essas coisas de criança. Era horrível quando chegava essa época do ano e… Via todas as famílias se reunindo, e eu continuava na mesma, tentando me enganar que era só mais um dia comum.

- Que maldade! - Noah coloca a mão no ombro de Sandro e aperta.

- E detalhe que eu era uma criança né, mas… Eu nunca vi tanta graça nessa época do ano e nem nessas coisinhas, mas hoje, quando você me falou que é o sonho de várias crianças no natal receber um presente do Papai Noel, eu me senti tão… tão culpado porque fui eu quem causei tudo isso, fui eu que acertei o véio e deixei ele desacordado. Por minha culpa eu quase estraguei o natal de várias pessoas.

- Então foi por isso que você decidiu vir tão rápido? - Noah pergunta com o mesmo sorriso no rosto, já sabendo da resposta.

- Foi. Foi por isso e pelo que você falou no meu ouvido. - Os dois começam a dar risada e olham as estrelas brilhando no céu. - Eu até que no fundo tô feliz de ter visto que eu sempre tive enganado sobre essas coisas… Talvez, seja minha chance de redenção.


Os amigos improvisam um abraço e começam a abrir o saco de veludo onde se encontravam os presentes que seriam distribuídos. Eles perguntam para o duende que subiu com eles quais seriam e em quais chaminés eles deviam jogar, mas logo recebem uma forte intuição e como mágica sentem para onde eles devem ir e conseguem visualizar em uma tela mental o nome das crianças e suas personalidades. Assim, iniciando a sua grande e épica aventura de natal, que por incrível que pareça, estava só começando.

 
 
 

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