Resgatando o Natal | Parte II
- Guilherme
- 25 de dez. de 2024
- 33 min de leitura
Eles ficam em uma pista, no alto de um dos prédios dessa cidade secreta, que dava acesso a um túnel escuro, aproximadamente dois quilômetros de onde estão parados. A pista é bem enfeitada como toda a cidade, com luzes pelas suas beiradas e um bom espaço livre entre eles e o túnel.
- Tudo pronto, vamos? - pergunta Noah, segurando e sacudindo as rédeas das renas, mas elas não se mexem. - Vamos!
- Vai ver elas estão cansadas. - diz Sandro, com uma pitada de sarcasmo.
- UP! UP!
- Cavalos da guarda real obedecem por comandos. Vai ver que devem ter algum específico.
- Sim. - responde o duende atrás deles, se sentando entre eles, ficando na altura do peito. - Noel diz duas palavras, uma para andarem e outra para voarem.
- E quais são? - pergunta Noah.
- Uma delas é: PRAETERVEHOR.
- … Eu nem vou me atrever a falar isso.
- Praetervehor! - diz Sandro, com autoridade ao tentar repetir a palavra que o feliz lhe conta.
De repente, as renas a sua frente ficam atentas e começam a correr, sem uma prévia, fazendo os meninos serem jogados para trás e os dois duendes se segurarem em seus cabelos para continuarem no trenó.
A velocidade que ganham em pouco tempo é surpreendente, fazendo Noah segurar firme nas rédeas e em segundos já estavam passando pelo túnel, que por incrível que pareça, dava acesso a uma avenida.
- O QUE TÁ ACONTECENDO!? - grita Sandro, confuso por está rodeado de carros, buzinando confusos com aquela cena anormal.
- COMO ELAS VOAM!? - indaga Noah, procurando o Feliz, guiando os animais para não bater em nada.
- Precisa do comando! - diz o duende, levemente assustado.
- Sério!? Qual!? - pergunta Sandro.
- Volare.
- Noah!
- Okay, okay. Volante!
- Que volante o que!?
- Desculpa, eu não tô ouvindo direito com ESSES CARROS QUASE BATENDO NAS RENAS!
Antes que Sandro diga alguma coisa, ouve uma buzina grave, e quando olha para frente, tem a visão de um enorme caminhão indo de encontro a poucos metros deles. Noah puxa com força para desviar, que por pouco não colidem.
- Valorante! Violão! Meu Deus como é a palavra!?
- Volare! - grita o duende, se abraçando com seu companheiro.
- Volare! - repete Noah, desesperado.
As renas na frente deles começam a galopar como se subisse uma escada invisível e indo em direção aos céus, entre as nuvens. Ali, no alto, longe da confusão, buscam fôlego para se acharem na situação.
- … O que foi isso!? - pergunta Sandro, perplexo, com a cara em completo choque.
O duende que acompanha feliz se levanta do susto, sorrindo e fazendo sinais em libras para eles, excitado.
- O que ele tá dizendo?
- Disse que nunca teve uma experiência tão traumatizante como essa. E que espera que no próximo natal estejam conosco de novo. - diz Feliz, traduzindo as libras para eles.
- Eu espero que não. - diz Sandro, antes de ser repreendido por seu amigo com um soquinho no braço.
- Então vamos para a primeira casa. - diz Noah. - Eu consigo visualizar a casa, mas… Como chego nela?
- Siga seus instintos. Noel sempre fazia isso, nunca disse exatamente como fazia… Ele só ia.
Sandro olha para baixo, aquela cidade enfeitada e cheia de cores. O frio em seu rosto não era nada comparado a energia que passa pelo seu corpo, tomada por uma animação que nunca sentira, que o aquece e conforta. Tenta pensar em uma maneira de achar a casa, como um ponto de referência ou algo do tipo.
- Falando nesse Noel, como funciona isso? - pergunta Sandro.
- Não entendi sua pergunta.
- O natal. Tipo, é como nos contos? Crianças boazinhas e tudo mais?
- Sim. Ao longo do ano recebemos registros diários dos acontecimentos mundiais. De cada pessoa. - fala Feliz com certo cansaço em seu tom, como se apenas lembrar do trabalho, lhe cansasse. - Dois dias antes do Natal somos separados para cada setor, que cuidará de uma linha meridiana específica.
- Então o Papai Noel não entrega no planeta inteiro em uma noite? - pergunta Noah, decepcionado.
- Não… Isso seria… Bom… Como se diz…?
- Impossível! - completa Sandro.
- Isso. Não usamos muito essa palavra.
- O San usa sempre.
- Engraçadinho. Achou a casa?
- Não… Eu não conheço a cidade assim para achar uma específica assim.
- Tenta usar esse seu instinto. Se concentra na casa e deixa teu… - Sandro dá um forte suspiro, sem acreditar que vai dizer coisas que sempre julgou como baboseiras. - … Teu coração te guiar.
- Acha que funciona?
- Estamos voando em um trenó. Minha linha que separa o real do irreal tá muito fina.
- Okay, okay… É, como faço isso?
- Olha, eu já trabalhei como motoboy. - diz ao sentar perto dele, olhando as renas correndo no ar. - Tinha momentos que tava em certos lugares e tinha que ir para outros completamente diferentes. Então, eu não pensava em uma rota certeira, sabe? Eu só ia… Minha mente sabia onde tenho que chegar… Meu corpo só tinha que deixar fluir.
- Mas, eu nunca vi essa casa pessoalmente. Muito menos andei na cidade toda.
- Pensa no lugar. Ao redor dele. Onde está agora. A magia do natal tá em você. - Sandro não consegue esconder o refluxo que tem ao dizer isso.
Noah fecha seus olhos e se concentra na casa que veio em sua mente. Inspira e suspira devagar, diferente de Sandro, abraça o vento frio em seu rosto. Sente todas as sensações que aquele voo lhe proporciona. Aperta com mais força as mãos nas rédeas, os pés na madeira, as leves gotas de água em sua pele.
Quando abre os olhos, vê uma linha, como um rastro de poeira dourada, pairando na frente das renas e levando a algum lugar.
- E aí?
- Eu… Eu acho que sei onde fica.
- Boa.
Fazendo um movimento para acelerar os galopes, eles vão em direção a casa. Sandro se segura quando o amigo faz uma curva no ar, indo para um bairro mais a frente, mergulhando.
- É logo ali na frente. - explica ele.
- E o que fazemos?
Dunga olha confuso para Feliz e faz uns sinais rápidos, mas o duende não traduz, apenas responde: “É, também tô achando estranho.”
Em um movimento rápido, sem saber como diminuir velocidade, Noah bate as renas em uma árvore, derrubando todos na grama logo abaixo das folhas, deixando o trenó preso na copa.
- Que aterrissagem! - zomba Sandro, se levantando, com Dunga em sua cabeça.
- Eu não tirei categoria T na carteira.
Sandro olha confuso para ele, sem entender ao certo o que ele quis dizer.
- T de Trenó…
Dunga tampa a boca com as duas mãos para segurar o riso e Feliz se levanta em seguida, perguntando:
- A casa é essa?
- É, é sim. - responde Noah.
- Então vão até o quarto da criança, deixem o presente e voltem. Eu e Dunga cuidamos disso. - ao dizer isso, o duende na cabeça de Sandro pula e vai para perto de seu companheiro.
Com um estalo de dedos de Feliz, o saco de veludo cai na frente deles e ele continua:
- Sabem como funciona, não é?
- … Claro!
- Ainda bem. Podem ir.
Os meninos ficam parados, olhando para o duende, que fica confuso.
- Algum problema?
- É… Pode revisar pra gente? - pergunta Noah. - Sabe como é, né? Primeiro natal como ajudantes.
- O saco mágico só funciona com quem acredita. Ele não vai dar exatamente o que a criança quer, e sim, o que ela precisa. Apenas ponham a mão dentro, leiam a mente da criança e deixem o presente. Bem simples, não?
- Mais que isso, impossível. - responde Sandro apanhando o saco de presentes e puxando Noah.
Quando se afastam dos duendes, Noah pergunta:
- O que foi?
- Não deixa tão na cara que não sabemos dessas coisas. Podem acabar descobrindo.
- Certo. Agora, como vamos entrar?
Eles param de frente a casa. Todas as luzes de dentro parecem estar apagadas. E como é uma casa de dois andares, deduzem que o quarto esteja no alto.
- Chaminé? - pergunta Noah.
- Moramos no Brasil, amigo. Vamos fazer isso do jeitinho brasileiro.
- Como?
Sandro não responde, apenas dá um sorriso de lado e olha para seu companheiro com malícia.
- Olha, eu não tô muito certo que isso é a maneira correta de se fazer isso! - diz Noah.
- Se continuar fazendo barulho, vai acabar acordando eles! Sobe mais um pouco.
- Você não é tão leve, sabia? - diz ao pôr mais força em seus braços e fazer seu amigo subir a janela. Sandro está com os pés nos ombros de Noah quando consegue alcançar a janela e entra na casa.
- Consegui!
- E eu?
- Vou abrir a porta dos fundos! Me espera lá.
- Okay.
Sandro se ergue e nota que a janela levava a cozinha. Por conta de está muito escuro, acaba esbarrando nos móveis perto antes que chegue na porta que ele acredita ser a que leva ao quintal.
Ao abrir, Noah entra devagar e ele cochicha dizendo que a criança está no quarto de cima. Sobem a escada em silêncio e chegam no corredor com três portas. Vão até a segunda e abrem com cuidado para não fazer nenhum barulho.
No quarto, há uma criança dormindo tranquilamente em uma cama perto da janela. Sandro, que está segurando o saco de presentes, põe a mão dentro e se assusta.
- Tá vazio!
- O que? Como assim?
- Tá vazio, ué. - fala ao mostrar a abertura, indicando que não há nada dentro do saco.
- Impossível! Que droga, será que caiu na queda?
- Ou talvez seja com você.
- O que?
- O lance de acreditar. Anda logo, pega! - diz ao dar o saco para o amigo.
Noah, com certa dificuldade, já que parece que o saco ganhara 40kg de uma hora para outra, vai até o garoto. Em sua visão, ele está envolto do mesmo rastro que os trouxe até aquele quarto.
Põe a mão no saco de presentes, que brilha da mesma cor do que o rastro, e de dentro sai uma caixa enfeitada com papel presente e um laço. Ele olha para seu amigo e sorri, extremamente animado por está fazendo aquilo.
Bota o presente perto do pé da cama e fica de pé, sem conter o sorriso de aprovação que tem de si mesmo. Sandro retribui o sorriso e aponta discretamente para a janela, mostrando o trenó flutuando à espera deles.
Na casa de Mirian…
A garota sentada na cadeira ao lado do Noel vê a notícia na televisão, de um trenó que invadiu a Avenida Beira Mar. Ela aperta os dedos e olha para o velho, ainda desacordado, que agora está na cama.
“Espero que façam seu trabalho direito” diz pra si mesma.
Nos altos da cidade…
- Próxima criança? - pergunta Sandro.
- Não parece muito longe.
- Acha que até o fim da noite damos conta? - pergunta Sandro, ao bocejar.
- Vamos sim. Tá com sono?
- Não, só estou cansado da viagem.
- Deve ser chato passar horas em um avião e… Entrar em outro. É ali em baixo. - diz ao mergulhar o trenó novamente.
As próximas horas serviram de treinamento para os garotos. Tendo que forçarem a criatividade para entrarem em cada casa uma delas sem sermos vistos. Indo de entradas pela porta dos fundos, a escaladas e fuga dos cães de guarda.
- Como entramos aqui? - pergunta Noah, vendo que a casa é em condominio.
- Qual a casa?
- Aquela. - diz ao apontar. - Terceira da ponta.
- Me dá o presente.
- O que vai fazer? - pergunta, desconfiado, pondo o presente na mão do amigo.
Sandro mira, e de uma vez arremessa o presente, acertando e quebrando a janela do condomínio. As luzes dos quartos acendem, junto com uma queixa de algo pesado batendo na cabeça de um garoto. “Corre, corre!!” diz Sandro, puxando Noah para o trenó.
Depois de mais meia hora, Sandro não resiste mais ao sono e decide ir comprar um café, buscando um drive thru aberto naquela hora da noite.
- Estamos indo bem. - diz Noah, parando na frente do microfone. - Não sinto mais nenhuma criança na cidade.
- Ainda temos mais cidades!?
- Boa noite. Bem-vindos ao vai e não volta. Qual o seu pedido?
- Um café grande e uma porção de batatas. - responde Sandro, em meio aos bocejos.
- Certo. Só ir adiante que o pedido estará pronto.
Eles vão a alguns metros adiante, onde um atendente novo, com mais ou menos 17 anos fica de boca aberta olhando para aqueles dois estranhos, vestindo como duendes em um trenó.
- É… É… Aqui está… Senhor.
- Obrigado. - diz Sandro, pegando com naturalidade.
- Olha só, você foi bonzinho esse ano. - diz Noah, tirando um presente da sacola e dando para o garoto. - Feliz Natal.
Ele continua sem reação, incrédulo vendo as renas darem meia volta e voando ao céu noturno.
- Sim, respondendo sua pergunta… Parece que não está nessa cidade. - diz confuso, vendo que agora o rastro mudou de cor, que antes era dourado, agora é magenta.
- Noel já deu presentes a muitas crianças antes de mandarem vocês. - diz Feliz. - Então, vamos nessa!
Noah apressa mais uma vez as renas, agora indo para além das fronteiras da cidade. Deixando para trás as luzes das estradas, deixando-os iluminados apenas pelas estrelas. O vento fica mais frio do que antes, fazendo Dunga se aquecer no braço de Sandro.
- Não devemos demorar muito. - diz Noah. - Elas são muito rápidas!
- Eu notei, mas o trenó bem que podia ser coberto. Fica congelando aqui.
Noah ri do amigo e de repente, ouve um som estrondoso, quase ensurdecedor. Olha ao redor e não vê nada.
- O que foi? - pergunta Sandro, alerta.
- Nada, só achei que ouvi algo… É, falando nisso. O que o Papai Noel fazia sem as renas? - pergunta ele ao Feliz.
- Ele gosta de se aventurar sozinho às vezes. O que nos dá uma grande dor de cabeça, já que quase todos os anos, muitos humanos acabam vendo ele e levando a gente a ir atrás deles e apagarem as memórias.
- Os humanos não podem saber que ele existe? - pergunta Sandro.
- Seria uma confusão. Imagina só, um simples humano, de uma hora pra outra descobrindo tudo isso. Iria enlouquecer… Ou pior, ia nos caçar, como antes.
- Caçaram vocês!?
- Sim, a meio milênio atrás… Os humanos têm medo de tudo que é diferente. Acharam que éramos um perigo para a existência deles. Então, o Mestre nos escondeu e nos manteve seguros. Florestas densas se tornaram nosso lar… Vivemos seguros até então. Mas, a linhagem Noel acreditava que os humanos eram bons. Então, a cada geração, era escolhido um campeão para representar essa figura e distribuir esses presentes. Uma recompensa pelo comportamento, mas também, um ponto de esperança… Esperança que um dia, possamos nos revelar sem termos medo.
Sandro fica surpreso com o que acaba de ouvir. Pelo visto, era bem mais que um simples feriado, ainda mais para eles.
- Não sabia que Noel era um cargo. - diz ele, depois de absorver essas novas informações.
- É uma família enorme. Tão antigas quanto a humanidade. A maioria nasce com magia, naturalmente, são esses os escolhidos para representarem essa figura. Mas, se recusam a usar quando não é proveniente.
- Como assim?
- Seguem regras. Regras essas que têm que ser cumpridas pelo bem de sua existência. O poder que tem é capaz de coisas inimagináveis. Mas, como falei, não podem interferir em problemas humanos, nem usá-la contra eles.
- E o que fazem com esse poder?
- Refletem nos humanos. Coragem, força, fé, esperança… Tudo isso vem de muitas vezes, deles. Conseguem emanar energias poderosas nos humanos de uma maneira que os fazem conseguir coisas incríveis. Por que acha que o Natal é o feriado mais aconchegante que existe?
Feliz dá uma risada gostosa de ouvir e tira uma foto do bolso de seu casaco minúsculo e mostra a Sandro. Ele pega com a mão direita e contempla um registro em preto e branco de homens fardados sorrindo juntos para um retrato.
- Esses são soldados. 1914 do calendário humano.
- Primeira guerra mundial… - suspira Sandro, surpreso. - Eles pararam a guerra para… Comemorar o natal.
- Noel não se segurou nesse dia… Esse velhote tem suas manias. Foi um dos meus dias prediletos, envolvendo a demonstração de poderes dele.
Sandro olha fixamente para aquela foto. Tudo que ele acreditava sobre essa data, estava se reformulando…
Noah puxa o trenó para cima de uma vez, fazendo eles serem jogados para trás mais uma vez.
- O que foi isso!? - indaga Sandro.
- Problemas!
Quando se senta novamente, vê que logo atrás deles tem dois jatos A-1 bem atrás deles.
- Era só o que faltava.
- O que é isso!? - pergunta Feliz.
- Proteção do nosso país. Pelo visto, chamamos atenção demais quando aparecemos para os humanos. - responde Sandro. - Consegue despistá-los, Noah?
- Posso tentar.
Noah guia as renas por entre as nuvens, mas os jatos seguem com perfeição, sem nem ao menos sair da vista deles. Nesses movimentos, Sandro e os duendes sacodem de um lado ao outro, tentando se segurar para não serem arremessados para fora.
Dunga olha para Feliz assustado e faz sinal para ele.
- O que ele disse? - pergunta Sandro.
- Que precisamos tirar eles de vista antes que chamem mais atenção e perdemos tempo.
- Isso foi um pouco óbvio.
Os dois jatos aparecem de cada lado do trenó. Antes que Noah perceba, eles fazem um movimento cruzado que para não colidir com eles, o garoto gira o trenó de cabeça para baixo rapidamente. Sandro segura firme com uma mão e com a outra, segura os duendes, dando uma boa vista da altura extraordinária que estão do chão.
Mas, a atenção é voltada ao saco de presentes que cai de repente.
- NÃO! - grita Feliz.
Noah volta o trenó ao normal e eles se sentam. Sandro olha para aquele pequeno ponto vermelho caindo, ganhando velocidade.
Se perderem aquilo, nada dará certo daqui para frente. A missão deles, que ainda nem começaram, iria por água abaixo. Sem pensar, olha para as renas e lembra da explicação do amigo antes disso tudo começar.
- Boa sorte, Noah.
- O que!?
Sandro pula do trenó para as renas, indo para a que está na frente, a mais forte e alta delas, a famosa Rudolph. Ela obviamente o estranha e ele a solta das demais, dizendo: “Olha aqui, me ajuda a te ajudar, beleza!?” e pondo as mãos em seus chifres, impulsiona a rena a mergulhar no ar.
- O que seu amigo está fazendo? - indaga Feliz.
- Ele… Tá sendo o San. - responde Noah, sem acreditar no que acabou de ver, mas volta em si logo depois quando um dos jatos fica em sua cola.
A rena resiste às ordens de Sandro, sacudindo sua cabeça com violência, impedindo dele se segurar em seus chifres.
- Macho, num me estressa não! - diz ao pegar com força e olhar para o jato que parece perceber aquela fulga. - BAIXA!
Sandro mira no saco de presentes e ergue o braço para pegá-lo, mas a resistência do ar o atrapalha a manter seu corpo firme naquela posição, até que o animal volta a voar em linha reta bruscamente, fazendo seu corpo se chocar com o corpo dela.
- O que você tá fazendo!?
Rudolph bufa e o faz olhar para cima, onde o segundo jato estava focado nele.
- Precisamos pegar aquele saco antes, vamos.
Em espiral, ele desce mais uma vez, desviando o atrito do ar com o movimento e indo mais e mais perto, mas o jato passa por ele, criando um vácuo e desestabilizando-o, perdendo o foco e cair do animal, batendo na asa do jato e cair em queda livre.
- PRA QUE EU INVENTEI DE VIAJAR NO NATAL!?
Sem perder o foco, continua fixando o olhar no objetivo e juntando seus braços como se fosse afundar na água, ganha velocidade na queda, ainda longe, mas com esperança de chegar a tempo.
Noah continua tentando sair de vista do jato, mas todos os movimentos que faz são em vão. Até que pensa em alguma coisa que poderia ajudar.
- Se segurem! - diz ao erguer mais ainda o trenó, ficando cada vez mais inclinado, até que fica em linha reta, subindo cada vez mais rápido.
O ar fica pesado, a temperatura mais e mais fria, seus olhos pesam e quase perde as forças para segurar as rédeas. Mas, permanece firme.
As renas perdem força até que como se chegasse em um limite, elas param de galopar, pairam no ar por alguns milésimos de segundos e caem.
Sandro ainda longe do saco de presentes, sente algo sobre seus pés, era a rena que o alcança e o põe novamente em cima de seu pescoço. Com um impulso, pegam os sacos de presentes e antes que se choquem no chão, o animal para no ar e ergue voo, diferente do jato que não consegue fazer o movimento a tempo e vai direto ao chão, fazendo o piloto ejetar antes da explosão do jato ao cair. O choque da explosão faz eles serem impulsionados para frente, caindo no chão, que já estava a poucos metros deles.
Sandro se levanta, vendo que estão no meio do nada, com a única paisagem sendo terra e algumas plantas da mata branca, iluminadas pelo fogo da explosão. Com esforço, fica de pé e pega o saco de presentes e vê, que mais a frente a rena está deitada, também ferida pela queda.
- Desculpa, amigão!
A rena olha para ele e se esforça para ficar de pé, mas sua pata estava coberta de sangue.
- Droga. Vem cá… - diz ao largar o saco de presentes e rasgando um pouco da manga de sua camisa, por baixo da fantasia que Noah lhe deu. Com o pedaço de pano, limpa e amarra, improvisando um curativo para que o sangramento diminua. - Vai ficar bem…
Ele nota que o animal o encara, como se soubesse o que está acontecendo.
- O que? Eu não sou veterinário, mas dá pro gasto, né? - brinca ao pegar o saco de presentes.
Ofegante, Sandro se posiciona corretamente sobre Rudolph e voltam para o trenó, onde ele vê que está em queda livre.
- N-Noah!? Vamos, pocotó!
O trenó continua caindo desgovernado, com Noah quase inconsciente, sem forças para se segurar. Feliz e Dunga se abraçam, vendo seu fim. As renas, sem orientações, ficam sem saber o que fazer, fracas tanto quanto Noah. Ele vê que o jato também está caindo, possivelmente o piloto também ficou desorientado como eles.
- Deu certo! - diz ele, quase sem fôlego.
Pega as rédeas novamente, puxando todo o ar possível, grita: “VOLARE!”. As renas ouvem o comando, se ordenam em suas fileiras e voltam a galopar no ar, com as orientações dele. Cai no banco de uma vez e põe o trenó na rota novamente, e logo acima dele vê algo cortando o céu: Sandro em cima da rena, indo voar ao lado do trenó.
- VOCÊ VIU O QUE EU FIZ!? - grita Noah, animado.
- Se fizer mais uma vez, juro que não vai sobreviver para comemorar!
- Foi demais, admite!
- Você mandou bem.
- Espera aí… - diz Feliz, confuso.
Nesse momento, os meninos percebem que nesses movimentos, suas fantasias acabaram saindo, incluindo as orelhas falsas. Deixando o duende incrédulo ao ver que…
- … Vocês são… Humanos!?
Noah, Sandro, Dunga e Feliz se entreolham por alguns momentos. Os meninos estão com cara de choque e tocam em suas próprias orelhas, comprovando que suas fantasias de duende haviam saído.
- Humanos? - pergunta Noah, tentando rir como se fosse uma acusação boba. - Como assim humanos?
- As orelhas e o chapéu de vocês saíram. Eu devia ter desconfiado, vocês mentiram pra nós, meninos? Por quê? - Feliz indaga com um tom de decepção em sua voz.
- Não, veja bem, nós não mentimos, nós somos realmente duendes desse tamanho…
- Noah - Sandro tenta interromper Noah, que pede pra ele se calar.
- E aí aquelas fantasias na verdade eram porque a gente não tinha nascido com as orelhas daquele tamanho por algo no nosso DNA e aí…
- Noaaaah - Sandro tenta chamar sua atenção mais uma vez, mas de novo, Noah pede pra que ele se cale.
- E então na verdade a gente não mentiu, na verdade, omitiu que não somos duendes como vocês e tal…
- NOAH!
- O QUE QUE FOI, SAN– - Ele vira o rosto bruscamente e Sandro se agacha. - MEU DEUS, MAS O QUE É ISSO? - Noah pergunta assustado ao tocar no seu nariz e vendo que… estava enorme.
- O seu n-na-nariz, Noah - Sandro gagueja aproximando a mão com cuidado ao nariz de Noah que sem perceber, dá um tapa na mão do seu amigo por estar assustado.
- Meu Deus… POR QUE MEU NARIZ TÁ TÃO GRANDE ASSIM? MAS O QUE É ISSO?
Dunga fala algo em sua língua de sinais e Feliz traduz o que foi dito:
- Porque vocês mentiram pra gente. E é por isso que o seu nariz tá desse jeito.
- Pera aí, Papai Noel, Branca de Neve e agora o Pinóquio? QUANTOS CONTOS DE FADAS EXISTEM DE VERDADE, AFINAL?
- Mais do que vocês podem imaginar. - Feliz responde ainda com um tom de dureza na sua voz.
- Quer saber, nos desculpe. A culpa foi toda minha.
- San, não
- Deixa Noah, é melhor dizer a verdade. Melhor que o meu nariz não fica enorme igual ao seu.
Dunga ri do que o Sandro falou.
- Nós não somos mesmo duendes, nós somos humanos. Tudo isso aconteceu porque eu fui descuidado e acertei o Noel na cabeça quando ele apareceu lá na casa do Noah. - Todos fazem cara de surpresa e tapam a boca.
- Você acertou o Noel? - Feliz pergunta incrédulo.
- Foi sem querer, eu não vi direito, pensei que fosse um bandido tentando invadir a casa e agi na rapidez pra me proteger. E aí depois ele ficou desacordado e a gente teve a ideia de dar um jeito de vir aqui “substituir” ele pras crianças não terem um Natal prejudicado por minha causa.
Sandro abre seu coração para os duendes e eles o encaram profundamente.
Dunga e Feliz vão até um canto do trenó e conversam sobre o que irão fazer com os meninos. Depois de um tempo, ambos chegam a uma conclusão:
- Olha, foi muito feio o que vocês fizeram pra gente. Vocês mentiram, usaram uma fantasia, uma identidade falsa. Nós duendes somos algo sério, devemos ser respeitados. Nosso trabalho dura o ano inteiro, nossas aparências, nossas vozes. É até contraditório eu o Feliz termos ficado triste com isso. Nós contamos a nossa história com os humanos e vocês sendo dessa espécie entraram na nossa cidade natalina. Foi muito sério.
Noah e Sandro abaixam a cabeça.
- Mas o Dunga me fez perceber algo que eu não havia visto. Vocês foram honestos e abriram o coração. Poderiam ter mentido de novo, mas decidiram se arriscar e falar a verdade, isso nos deixou muito orgulhosos. E além disso tiveram um ato de coragem de vir aqui reparar o erro e ajudar a magia do Natal acontecer, por isso, nós iremos dar mais uma chance para vocês e não iremos entregá-los ao Mestre. Porém, vocês precisam me prometer que agora vão fazer as coisas direito. Vão conduzir esse trenó direito e vão entregar todos os presentes nas casas com responsabilidade. Estamos entendidos?
- Sim, Feliz! - Os dois abrem um sorriso e os olhinhos de Noah começam a brilhar. - O que tá acontecendo?
Dunga diz algo em sinais e os meninos, pela primeira vez, conseguem entender o que ele está querendo dizer.
- QUE INCRÍVEL! VOCÊ TAMBÉM? - Os dois se olham e se perguntam se estavam sentindo a mesma coisa ao mesmo tempo.
- O que ele disse, meninos? - Feliz pergunta para eles mesmo sabendo da resposta, apenas para ver a felicidade ao contar.
- Que você nos encantou com uma poção muito maior da sua magia! - Eles exclamam sorrindo e começam a flutuar.
- Viu, San? Tudo acontece se você acreditar. - Noah olha para o seu amigo que está com os olhos um pouco marejados. Os dois se abraçam no ar.
Após um tempo, Sandro põe a rena junto às outras e sobe no trenó, novamente.
- Nossa, Noah, você tá conduzindo esse trenó igual gente agora, parece que tirou habilitação de motorista de trenó! - Sandro elogia seu amigo.
- Vamos parar bem ali em cima daquela casa, a laje vai suportar o trenó. Nós vamos descer duendes, já voltamos. - Os dois permitem suas saídas e os amigos vão até a janela.
- Ter parado aqui em cima facilita nosso trabalho. - diz se referindo a janela, que dá acesso direto ao quarto.
- Isso mesmo, San.
Noah respira fundo e Sandro observa. Ele parece puxar um ar profundo lá de dentro do seu ser e apoia as duas mãos na janela, que se abrem como mágica.
- Que?!
- Gostou, San? - Noah pergunta soltando um riso feliz e inocente, Sandro percebia que na verdade era o seu amigo Noah que era como a criança mais feliz daquela noite.
- É, incrível! Vem, vamos tomar cuidado pra não fazer barulho. - diz, mas acaba tropeçando na janela e caindo no chão do quarto, fazendo um barulhão. Ou, pelo menos…
- SAN, SAN, VOCÊ TÁ BEM?
- Tô, mas não grita.. vai acordar o–
Os dois olham para o menino que continua dormindo tranquilamente feito um anjo, como se nada tivesse acontecido.
- Garoto do sono pesado. - diz ao ficar de pé, batendo em suas vestes para tirar a poeira do chão.
- Deixa eu tentar um negócio. - Noah pega um vaso de flores em cima da mesinha do garoto e joga no chão de uma vez, com bastante força.
- NOAH! - Sandro grita repreendendo a atitude do amigo, mas os dois notam que o menino continua dormindo como se nada houvesse acontecido. - Pera aí, a gente escutou o estrondo, certo?
- Sim, mas ele… ELE NÃO! AAAAAAAAA! - grita de repente, e se olham com bastante euforia. - Meu Deus, como isso é possível?
- Acho que a gente pode fazer o barulho que quiser agora que eles não vão escutar, só a gente.
- E isso torna todo o trabalho mais fácil!
- Verdade, mas agora a gente precisa entregar o presente dele e depois limpar essa bagunça que você fez no chão.
- Verdade… Peraí, cadê a bagunça? - Os dois olham pro chão e não veem nada. Olham pra mesinha e notam o vaso lá. Intacto.
- Cara, tô começando a ficar com medo.
- Essa magia do Feliz é mágica mesmo! - Noah comenta e pega o saco de presentes no canto do quarto.
- Deixa eu tentar? - Sandro pergunta.
- Sim! Pode pegar. - Noah tenta dar o saco de presentes pro seu amigo com muita dificuldade, mas quando chega nele, está leve.
- Uai, por que comigo tá leve assim?
- Eu não sei, San… Tenta acreditar, vai. Lá do fundo da sua alma, tenta, eu sei que você consegue.
Sandro fecha os olhos e se esforça, se esforça, mas não consegue.
- É, eu não consigo.
Noah sente um leve embargo na voz do seu amigo, que tenta disfarçar que ficou chateado por não conseguir pegar o presente.
Noah pega o presente e o embrulho começa a brilhar como da outra vez. Ele põe perto da cama do menino e os dois se preparam pra sair do quarto e voltar ao trenó, porém…
- Eita, o que isso aqui? - Noah repara em um copo de leite acompanhado de biscoitos em cima da mesa de cabeceira do menino. - Que isso? Será que era pro Papai Noel?
- Tem um bilhete aqui, deixa eu ler… “Para a querida Fada do Dente!” - Sandro lê e olha para Noah com um incredulidade. - Fada do Dente? Leite com biscoitos não são pro Papai Noel?
- Não sei, mas eu acho que posso pegar unzinho… - Sandro dá um tapa na mão do seu amigo que geme de dor. - Ei! Esses biscoitos são pro Papai Noel, ou pra fada do dente, sei lá o que esse garoto quer. Nós somos os representantes do Papai Noel.
- São pra Fada do Dente. Você não leu o bilhete?
- E você acha que a Fada do Dente vai querer leite com biscoitos, San?
- NOAH, SE ABAIXA! - Sandro grita pra Noah e os dois vão até atrás do guarda-roupas do menino e reparam em uma figura quase que minúscula, encantada e com uma varinha de condão se aproximando do travesseiro do menino.
- QUE!? Será que ela ouve a gente? - Ela olha pro lado e Sandro põe a mão na frente da boca do seu amigo para tentar calá-lo. Os dois ficam observando e olham ela levantar com sua varinha o travesseiro do menino e a sua cabeça junto, pegar dois dentinhos de leite que haviam caído e que estavam debaixo e trocá-los por alguma coisa. Depois ela guarda os dentes numa bolsa mágica e vai em direção ao leite com biscoitos e come. Sandro olha para Noah com um olhar de “eu não te avisei?” e ela depois de beber, dá um arroto. Os dois quase choram de rir naquele momento tentando ao máximo não fazer barulho, mas sendo quase impossível.
Depois que a fada foi embora, Noah e Sandro soltaram suas risadas e gargalharam alto pela cena que viram. Certamente terão muita história pra
Quando saem do quarto, os dois fecham a janela de novo e deixam tudo como encontraram, voltam até o trenó e são bem recebidos por Dunga e Feliz, que os felicitam com muita gratificação.
Noah volta a conduzir o trenó para a próxima parada, mas um tempo depois, nota que Sandro olha as estrelas no céu de uma forma profunda e melancólica. Noah, com a intuição aguçada que ganhou com toda essa experiência e com a magia do Feliz, sente que há como se houvesse um buraco dentro do seu amigo que o consome e o deixa triste.
- O que você tem, San?
- Nada, nada não, Noah. - Sandro tenta disfarçar sua melancolia e força um sorriso pra Noah
- Não adianta tentar esconder de mim, eu consigo literalmente ver suas emoções dentro de você. Você tá assim por não ter conseguido entregar o presente do menino, não é? - Sandro olha pra baixo.
- Não, é que– - O nariz de Sandro começa lentamente a subir. - Não, nem ouse. - diz ao olhar para seu nariz. - Tudo bem, eu falo. - Noah sorri do desespero do seu amigo com medo do nariz tomando forma por estar mentindo e sente alívio por Sandro querer agora contar a verdade. - Sim, foi por isso. Confesso, queria ter conseguido fazer isso. Queria ser como você, Noah. A verdade é essa.
- Quê? Como assim?
- Desde que a gente se conhece eu admiro esse seu jeito de olhar a vida. Uma forma tão pura e encantadora, como seus olhos brilham sempre que você tá descobrindo coisa nova, como você faz suas coisas, como você fica quando eu e a Mirian fazemos algo por você. Eu sempre tratei como besteira, mas a verdade é que eu te admiro muito amigo, e acho que no fundo eu me sentia frustrado por não conseguir ser um pouco assim também. Não que eu não goste de mim e do meu jeito de ser, mas eu não gosto muito de parecer sem emoção e sem energia pra algumas coisas que acontecem na minha vida. Já com você parece que sempre você foi desse jeitinho.
- Aí que você se engana, San.
- Quê?
- Sim, eu nem sempre fui assim, amigo. Também já passei por tantos problemas, tantas coisas ruins, você sabe de várias. Nunca vou esquecer da sensação de ter perdido meu vô quando eu era criança, meu melhor amigo, o cara que contava histórias pra eu dormir, que me fazia enxergar um mundo novo com a minha imaginação e me levava pra ele quando meus pais aparentavam não querer estar por perto. Doeu muito, muito mesmo, mas o mesmo cara que levou a minha felicidade quando se foi, me deu esse presente, que foi o de tornar todos os momentos mais bonitos, ou pelo menos tentar. Toda vez que eu sou como você me falou, é pensando e lembrando dele, e eu adoraria que você pudesse sentir um pouco dessa magia também.
Os dois se olham com os olhos marejados e deixam suas lágrimas caírem de seus olhos. Noah solta a condução do trenó para segurar as mãos de Sandro e o garoto fica assustado com isso. Noah pede para que não se preocupe e confie nele, diz que Rudolph estará cuidando da condução naquele momento.
Lá atrás no trenó, sem os meninos perceberem, Dunga e Feliz conversam entre si e pensam em entregar ainda mais da magia do duende mágico para o Sandro, só que Dunga diz para que Feliz não faça isso.
- Por que não, Dunga?
Ele responde em sinais para Feliz olhar pros dois. Naquele momento, os dois estavam se abraçando e se permitindo sentir tudo o que estava acontecendo e o que contaram um ao outro. Em meio às lágrimas, uma força e uma energia dourada começa a surgir de dentro de Noah e toma conta dos dois, deixando os dois envoltos a uma energia dourada e brilhante, forte que arrebata os sentimentos ruins de Sandro e a melancolia de Noah e faz com que Sandro sinta um forte impulso dentro de si.
- San, os seus olhos…
- Estão dourados!
- Como você tá vendo?
- Pelo reflexo. - Ele sorri e Noah sorri de volta. Sandro começa a quase levitar de tão alegre e sorri de orelha a orelha. - Noah, você conseguiu.
- Não, San, você conseguiu. Você conseguiu encontrar essa magia, você conseguiu se encantar. VOCÊ, AMIGO!
Os dois pulam de felicidade e os duendes olham para eles com muita alegria.
- Agora eu entendi porque você não deixou que eu encantasse o Sandro, Dunga!
Dunga sorri e os dois olham para os dois meninos, encantados com a felicidade de Sandro, de poder ser tão mágico quanto tudo que estava acontecendo naquela noite.
- Depois daquela aventura que a gente passou quando entramos nesse trenó, não imaginava que tudo fosse ficar tão mágico e bonito assim.
- Eu também não.
Quando estão chegando próximo a outra casa, Noah para o trenó no chão e os dois saem dele para repetir o mesmo processo novamente. Saem do veículo carregando o saco de presentes e vão até a casa da próxima criança. Mais uma vez era uma casa de andar, e Sandro olha pra cima e começa a flutuar até a janela. Noah fica encantado com aquilo e faz isso também. Os dois gritam um alto e sonoro “INCRÍVEL!” que poderia ser ouvido há quilômetros, mas que graças à magia de Feliz, não foi possível.
Sandro espera para que Noah faça aquilo de novo de respirar fundo e tocar na janela para abri-la, mas o garoto pede para que seu amigo faça isso dessa vez. Sandro toma um impulso e apenas respira fundo e toca na janela que começa a se abrir. Dessa vez, a janela tomou uma coloração dourada naquele momento e depois voltou a sua cor normal.
Os dois entram no quarto da menina e vão até o lado da sua cama. Noah dá o saco de presentes para Sandro e diz:
- Você consegue, amigo!
Sandro sorri e coloca a mão dentro do saco de presentes e espera. Ao fechar os olhos, ele enxerga um mapa do que fazer e segue todas as instruções da sua nova intuição aguçada e transforma o nada em uma linda caixa com um embrulho lindo. Era maior que os presentes que já haviam entregue até ali e os dois se perguntam o que é. Quando se perguntam, conseguem ver através do embrulho e olham para um lindo patins que estavam dentro da caixa. Eles se agacham para colocar próximo a cama da menina, mas Sandro para e se levanta novamente.
- O que foi, San?
Sandro segura com força e com as duas mãos o embrulho e fecha seus olhos de novo, sente a sua energia mágica e sua intuição lhe instruindo, e Noah olha para o presente brilhando nas mãos de Sandro e sorri de orelha a orelha ao ver o que o amigo estava fazendo.
- Pronto! - Sandro deixa o presente no lugar e os dois vão até a janela.
- San, o que foi aquilo? O que você fez naquela hora?
- Eu encantei os patins com a magia que eu senti pra que ela sempre fique protegida em cima dele, pra que ele sempre leve ela com segurança pra onde ela quiser ir e pra que ela possa aprender a andar mais rápido.
- Será que poderíamos ter feito isso?
- Não vi nenhuma placa dizendo que não podemos.
Noah pula de alegria pelo que o amigo fez e o parabeniza. Após isso, os dois saem do quarto, planam até o chão e vão andando em direção ao trenó.
- Eu não poderia sentir mais orgulho de vocês, meninos! - Feliz exclama quando eles chegam ao trenó e Dunga diz o mesmo.
- Nós estamos indo agora para as últimas casas da noite. - Sandro repete o que o Dunga falou em sinais.
Os dois fazem uma expressão de tristeza pela aventura estar aparentemente terminando, mas Feliz pede para que eles não percam o ritmo e nem a alegria.
Noah então volta a conduzir o trenó e eles vão seguindo o mesmo esquema, mas dessa vez, Sandro está bem mais participativo e Noah está vibrando por isso. Agora o menino também consegue guiar o trenó e gritar o famoso: VOLARE!, consegue encantar os presentes e abrir as janelas também, consegue fazer tudo. Aquilo estava dando praticamente uma nova vida para Sandro.
Após Feliz comunicar que todos os presentes já haviam sido entregues, Dunga lembra que ainda falta um lugar, talvez um dos mais especiais daquela noite.
- É um orfanato… - Sandro repara. Os dois gritam novamente e resolvem pular para fora do trenó na mesma hora e saem em direção ao quarto das crianças. Eles conseguem entrar e agora Sandro e Noah revezam na entrega dos presentes. Eram muitas crianças, muitas mesmo. Eles decidem então descer e manifestar uma linda árvore de Natal na sala daquele orfanato, assim para deixarem todos os presentes embaixo dela e não tudo amontoarem dentro dos quartos. Noah e Sandro então se juntam e conseguem juntos manifestar uma linda árvore naquela sala e deixam todos os presentes das crianças carentes embaixo delas. Sorriem e saem do lugar com uma sensação de renovação e uma pequena maresia nos olhos.
- Eu queria tanto ver a reação delas amanhã!
- E também, San!
- Pronto, agora nosso trabalho está completo. Podemos voltar para a cidade natalina. VOLARE! - Feliz grita o comando para fazer as renas voarem e desperta a risada de Dunga, Noah e Sandro. - Que foi? Acharam que eu fosse perder essa também? - Os quatro dão risada e olham felizes para o céu e as estrelas naquele momento
Quando chegam à cidade natalina, Noah e Sandro temem a reação ao perceberem que eles não eram duendes de verdade e sim humanos, mas quando descem do trenó, todos eles correm para abraçar os meninos com um olhar de felicidade e gratificação.
- O Feliz nos contou o que aconteceu, e… - ele fala juntando as mãozinhas pra baixo e inclinando a cabeça pro lado e para baixo repetidas vezes. - E eu só queria, na verdade a gente queria… agradecer vocês! - Ele com seu tamanho pequeno abraça os meninos com vergonha e sem jeito. Os dois se olham e falam o nome: Tímido.
Sim, aquele que acabou de falar com os meninos foi o Tímido, um dos sete duendes do Papai Noel.
Logo depois os outros vêm conversar com eles. O Atchim acaba espirrando em cima dos dois, mas quando Sandro e Noah ficaram assustados pensando que pegariam uma gripe, perceberam que as suas roupas na verdade se regeneram e voltam para uma cor muito mais bonita, limpa e brilhante que estavam antes.
- O Atchim pode com seu espirro fazer as coisas voltarem a um estado renovado. - O Feliz explica para os meninos e eles esperam o próximo duende ir falar com eles. - Muito útil para quando batemos o trenó.
O próximo, que seria o Soneca, está dormindo apoiado no ombro do Zangado, que fica bravo com isso, o que faz os meninos sorrirem vendo a cena. Zangado diz que não vai falar com os meninos e diz que tudo que Feliz e Dunga fizeram foi errado e que vai comunicar ao Noel assim que ele chegar. Zangado empurra o Soneca que vai cair no chão, mas Sandro corre e segura o pequeno duende. Quando Zangado se vira, ele vê o Mestre chegando acompanhado do…
Na casa de Mirian…
Ela vê o homem barbudo finalmente dando um sinal de vida e comemora. Grita e vai até o andar debaixo pegar um copo d’água. Quando volta para o quarto que Noel estava desacordado, entra e não vê ninguém mais lá. Ela estranha e começa a procurar o bom velhinho pela casa na esperança de encontrá-lo em algum lugar, mas seria impossível, pois ele já estava ao lado do Mestre para dar a sentença aos meninos, Noah e Sandro na cidade natalina.
- Isso não é bom… - diz pra si mesma.
Na cidade natalina…
- PAPAI NOEL!? - Todos perguntaram surpresos e começaram a fazer um monte de perguntas ao mesmo tempo.
O velhinho pede para que todos se calem, mas Zangado continua falando.
- Noel, Noel, você viu o que esses dois irresponsáveis do Dunga e do Feliz fizeram? Eles trouxeram HUMANOS pra nossa cidadezinha, eles colocaram tudo em perigo, levaram eles pra distribuir os presentes. Se fosse o senhor daria um castigo grave a eles, na verdade, mandaria-os de volta para o Polo Norte. Isso é uma ótima ideia, se o senhor quiser eu vou com o Mestre assinar a rescisão deles. Vamos, vamos, Mestre! - Zangado tenta puxar o duende maiorzinho junto com ele enquanto Dunga e Feliz fazem uma carinha assustada.
- Quieta, Zangado! Não será necessário fazer nada com nenhum deles, muito menos com os meninos. - diz Noel, com uma voz calma e bondosa.
- O quê? O senhor ouviu o que eu disse? Eles são humanos, Noel. HUMANOS. ELES VÃO CONTAR PRA TODO MUNDO E COLOCAR TUDO A PERDER! Ah, faça-me o fa–
- Obrigado, Mestre! - O Noel agradece ao duende por ter dando um jeito de mutar a voz de Zangado com um dos seus feitiços, já que o duende Mestre era o duende mais poderoso dali, tendo todos os poderes de todos os duendes e mais um pouco que eram só deles. - Como eu ia dizendo, não será preciso punir nenhum duende e nenhum dos dois meninos. Eles são humanos sim e, sim, eu já sabia. Fui eu que planejei tudo isso. Ou pelo menos, quase tudo. - diz pondo a mão na cabeça e olhando para Sandro.
- O QUE!?
Todos se olham no mais absoluto estado de CHOQUE após o Noel revelar essa notícia.
- Quê? Meu Deus, pera aí? Como assim o senhor sabia disso tudo? - Um dos duendes pergunta para ele.
- E sabia que eu ia te acertar… - Sandro diz em tom assustado. - Por que não se protegeu, porque o senhor deixou que eu te acertasse, Papai Noel?
- Pra te ensinar uma lição.
Todos ficam surpresos novamente e colocam suas mãos na frente da boca.
- Quê? Lição? Mas o quê? Por que?
- Porque o rapazinho que vive dentro de você precisava ser resgatado. O pequeno Sandro, o que sempre sofria nessa época natalina vendo as famílias comemorando, ceando e ganhando presentes e só ele não, só ele sem viver isso também. Vou te contar um segredo: hoje ele viveu!
Sandro está emocionado com as palavras ditas pelo Papai Noel e como um filme em sua cabeça, sua infância na época do Natal começa a passar pelos seus olhos, e agora todos aqueles momentos de sofrimento vão sendo transformados e tomando uma nova cor, um novo rumo, um novo sentido.
- A magia natural do seu amigo Noah tornou absolutamente tudo mais fácil pra mim. Foi muito gratificante ver vocês dois juntos Resgatando o Natal e resgatando a sua alegria de viver, Sandro. Foi maravilhoso ver a sua coragem assumindo duas vezes a culpa que pensava que tinha e vindo até aqui fazer o que era certo. Você, e você também Noah me mostraram que eu estava certo em presenteá-los com um novo começo. Venham aqui até mim. - O bom velhinho abre os braços e os dois vão emocionados que nem crianças até ele para abraçá-lo. Naquele momento muita coisa aconteceu dentro de cada um. Aquele momento começava a ficar marcado na história dos dois, na amizade dos dois. Para sempre.
Alguns minutos depois:
- Ai, é uma pena a gente ter perdido a ceia lá em casa.
- Verdade, verdade. - Sandro ri da fala de Noah.
- Não tão rápido, meninos. - Feliz fala e leva os meninos até um lugar na cidade natalina. Lá estavam todos os duendes postos a uma mesa enorme cheia de gostosuras de Natal, com o Papai Noel na ponta. - Querem cear com a gente?
Os dois se olham e em uníssono respondem:
- Sim!
- Mas, a gente não pode deixar nossa amiga sozinha no natal. - diz Sandro.
- Já cuidamos disso.
Os meninos se viram e olham para Mirian encantada conhecendo a cidade natalina e correndo até eles de um jeito afobado e feliz. Os três pulam e se abraçam, mas depois Sandro olha novamente e dessa vez vê seus pais vindo do horizonte.
- San… - Noah e Mirian dizem ao mesmo tempo.
- P-pai?
Sandro começa a se aproximar devagar deles e eles do menino. Parecem se estranhar, parecem sentir medo, até que o menino toma impulso e pula nos braços dos seus pais. Seu pai o abraça e diz para o filho que está muito feliz por estar ao lado dele nesse Natal, e pede desculpas por todas as vezes que esteve ausente.
O Noel permite que os garotos contem toda a aventura para Mirian e os pais de Sandro e constata novamente a grande cura e o resgate que foram feitos naquela noite. Além de terem resgatado a magia do Natal novamente, resgataram a magia e o amor entre Sandro e o seu pai, agora, felizes e completos de novo, em busca de um novo começo.
—
- Nossa, ainda tô acabado de ontem, meu Deus!
- É, se eu tivesse levitado e aberto janelas com a minha magia, eu também estaria! - Mirian fala, os três dão risada e Noah se levanta do sofá onde os três estavam deitados.
- Ei, vocês vão querer mais alguma coisa? Sobrou muita ceia que os duendes e o Papai Noel deixaram a gente trazer de ontem.
- Ai, não, eu tô cheio. Tô me sentindo um próprio trenó. - Noah e Mirian gargalham do que o Sandro disse e Noah diz que vai na cozinha buscar uma coisinha pra ele.
- Aí, Noah. Será que pelo menos um pouquinho da nossa magia ficou com a gente? - Sandro pergunta tentando levantar a cabeça para olhar pro seu amigo.
- Eu não sei, San. - Ele responde indo até a cozinha.
Chegando lá, Noah abre a geladeira para pegar mais um pouquinho de comida que estava guardada lá e vai até o forno pegar um pedaço do Peru que trouxeram. Quando Noah toca na porta do forno, sua mão esquerda brilha em um tom dourado e essa energia toma conta de uma parte do forno. Ele olha para isso e sorri.
Sandro diz para Mirian que vai até o banheiro pegar um pouco de fio dental para fazer sua higiene. Ele vai, e quando chega, pega o fio no armário e passa entre os dentes para tirar o resto de comida presa entre eles e depois joga no lixo. Assim que faz, olha para o espelho e vê seus olhos tomando uma cor dourada, uma energia sendo emanada e vista pelo reflexo do espelho. Ele olha para aquilo e sorri.
Os dois, em seus respectivos ambientes e com seus respectivos momentos, dizem ao mesmo tempo: Incrível!
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